Entrevista com Luíza Coli na Newsletter de Maio da WISTA Brazil

A Newsletter de maio da WISTA Brazil destacou uma muito importante em nosso setor e que hoje vem tendo uma maior presença feminina. Confira abaixo entrevista realizada com Luíza Coli,  atualmente Diretora da Regional da WISTA no Espírito Santo, que atua como Port Captain na G2Ocean.

Qual é o papel de um Port Captain?

Aqui no Brasil, hoje, nós temos dois tipos de port captains: os que são responsáveis pela gestão náutica, marinharia e operações portuárias de portos e terminais (geralmente são profissionais com formação na marinha) e os que atuam nas operações portuárias, de carregamento e descarga de navios, geralmente representando algum armador. Em geral, ambos coordenam as operações de navios em portos, de forma a garantir de que tudo ocorra da forma mais eficiente e segura possível.

 

Como é para você representar as mulheres nesse mercado, sendo você uma das poucas Port Captains mulheres no Brasil atualmente?

Se olharmos para dez anos atrás, não existiam oportunidades de ingresso de mulheres em diversas cadeiras na área de shipping. Quando entrei no agenciamento, no porto, eram pouquíssimas. No estado do ES, por exemplo, éramos somente duas. Então, é muito gratificante estar nessa posição hoje e saber que posso abrir caminho para que cada vez mais mulheres possam ocupar os cargos que desejam e que tenham aptidão. Sou grata a G2 Ocean por me dar todo o suporte necessário e por ter sido o primeiro armador a abrir as portas para as mulheres no Brasil.

 

O que você diria para outras mulheres que gostariam de ingressar nessa área?

Sempre digo isso para todos que já trabalharam comigo e especialmente as mulheres: Nunca deixem de estudar e de se especializar! Façam todos os cursos que puderem, “grudem” em pessoas mais experientes, caso tenham a oportunidade, estejam in loco acompanhando os processos, sejam sempre pessoas curiosas e cerquem-se de mulheres as quais você admira. O grande diferencial é o quão capacitada você é/será para estar no mundo de shipping.

 

E como foi a sua carreira? Como começou e por onde passou?

Eu comecei na área de shipping com 17 anos, fui bolsista do Observatório Cidade & Porto (no porto de Vitória) durante a faculdade, depois iniciei em um operador portuário (e agência marítima) offshore, que atendia à Petrobras. Me formei no IFES, como técnica especialista em portos e ingressei na Orion Rodos, uma das maiores agências marítimas na época, onde atuei em quase todos os setores, especialmente comercial e operações, onde fui shipping agent, nos portos de Vitória e Rio de Janeiro, e subagenciando portos do Norte e Nordeste. Nesta agência, tive um grande mentor, que foi o Edivaldo Andreatta, que me ensinou tudo o que sei hoje e sempre me incentivou a trabalhar muito e correr atrás dos meus sonhos.

Após isso, atuei como Especialista Comercial na Sulnorte Serviços Marítimos, uma das mais antigas e tradicionais empresas de rebocadores no Brasil, onde mantinha contato diário com armadores, afretadores, traders, agentes e brokers no mundo todo. Em dezembro do ano passado, eu ingressei na G2 Ocean como Port Captain nos portos do Espíríto Santos. Fico feliz em pensar que na minha bagagem profissional tive a oportunidade de ter passado por operador portuário, agência de navegação, rebocadores e agora, armador. Foi o ciclo perfeito para o meu aprendizado.

 

Tem alguma história engraçada ou inusitada que tenha acontecido durante sua carreira que gostaria de dividir?

Tenho várias histórias…. Quando me sento com amigos para contar, ficamos um bom tempo…Desde uma belíssima queda de uma escada de navio em cima de uma lancha até um ataque de um comandante dentro de um navio! Foram (e são) muitas, sendo algumas engraçadas, outras mais tensas… Quando agente, conheci um grande comandante em Vitória, em 2016, ficamos muito amigos e nos falávamos quase todos os dias. Em 2018, ele retornou ao Brasil, em outro navio, por outro armador, no porto do Rio de Janeiro e, coincidente eu o atendi de novo, e foi bem marcante para mim, pois foi a sua última viagem, ele estava se aposentando. Sempre me lembro disso pois tomo café numa xícara que ele me deu como presente de recordação.

 

Desde quando você é membro da WISTA Brazil? Como enxerga o papel da associação na nossa indústria?

Sempre tive muita vontade de fazer parte da Wista, mas devido a rotina muito corrida, nunca havia parado para entender mais sobre a associação. No início de 2020 eu me associei e, de imediato notei que umas das melhores razões para fazer parte da Wista é a rede de mulheres admiráveis e o conjunto de planos & ações de relevância que a organização têm feito e proposto para o universo de shipping. No ano passado o nosso GT Shipping, Ports and Trading lançou a coletânea Por Elas, onde pude colaborar com 2 artigos e foi realmente incrível. O papel da Wista hoje no Brasil é fundamental para elevar e aprimorar o nível de mentes femininas liderando a indústria.

 

Gostaria de compartilhar alguma mensagem com as nossas Wisters?

Claro! Sinto que estamos fazendo uma diferença enorme na nossa indústria e não poderia de deixar de agradecer a todas pelo trabalho maravilhoso que têm desempenhado. A maioria de nós se fala diariamente e além das trocas de experiências profissionais, também estamos presentes no dia a dia umas das outras para tudo, um grande círculo de amizade. Sinto que tenho uma família de mulheres fantástica espalhada em todo o Brasil.

 

Rio de Janeiro, 03 de maio de 2024.